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sábado, 30 de junho de 2012

                             


                        Doces Lembranças
                                                    Fátima Soriano


        
       



 Debrucei na janela do meu apartamento (apertamento, melhor dizendo), e me deparei com uma vista bonita. Uma leve brisa me batia a face. As andorinhas faziam festa no céu, o canto do bem-te-vi e de tantos outros pássaros dos quais desconheço o nome, pairavam no ar fazendo parte desse lindo cenário. Vi coqueiros, árvores verdes, prédios da Pajuçara, casa....e, de repente, meu olhar debruçou no Colégio Professor Benedito de Moraes, da qual estudei desde meus doze anos até concluir o ensino médio ( antigo científico).
   Meus pensamentos viajaram em um passado distante, recordando minha adolescência. Que tempo lindo! Nossa casa da Pajuçara, localizada na Rua Jangadeiros Alagoanos, 1128, parecia um castelo de primeiro andar... Quem via uma casa tão bonita, pensava que éramos ricos. Nem podia imaginar a maratona que meu pai fazia para colocar tanta comida na mesa. Somos quatorze irmãos, de fato que, naquela época, já havia alguns casados, mas a turminha de crianças e adolescentes ainda era grande.
          Minha mãe, sempre na corrida com os afazeres domésticos, pois não parava secretária devido a casa ser muito grande e além de muitos filhos, ainda chegavam os netos. Era uma danação só! Mesmo assim, minha mãe cuidava de cada um de nós com devoção, sabedoria e paciência. Era rígida, quando necessário, mas sempre dedicada a todos.
          Meu pai, naquela cadeirinha de balanço, com uma das pernas sobre o braço da cadeira, tirava uma soneca...  ficava vermelho quando lhe surpreendia com um beijo nos seus cabelos brancos... de quando em quando, cantava música de ninar com um dos netos no colo, para aliviar a barra da minha mãe. Eles adoravam me ouvir ao piano, principalmente quando eu tocava Fascinação, E o destino desfolhou e Sobre as ondas. Como éramos felizes!... Era uma vida simples, sem luxo, mas éramos felizes! Tínhamos o essencial.
          Lembro-me que eu estudava sempre com um sobrinho no colo tentando pegar o meu livro. Andréa, minha irmã caçula, até aos quatro anos achava que eu era sua babá, e era mesmo! E quando ficavam: Clarinha, Paulinha e Taninha, minhas sobrinhas, as três aprontavam sempre com o comando de Clarinha, o raio. Esse trio além de subir no telhado,já tocaram fogo até no mosquiteiro... dá pra imaginar?!...
          Meu olhar continua debruçado no Colégio do Estado onde estudei e meus pensamentos pairavam no tempo... no vento... como um filme na minha mente, nas minhas lembranças... Era Colégio do Estado, mas naquela época, não havia greve e os professores ficavam registrados na memória.
          Muitas vezes, meu pai não tinha condições de comprar todos os livros _ Naquela época não era gratuito, eu tinha que pedir emprestado na sala vizinha para não perder nota. Minha farda era aproveitada de um ano para o outro, até que o tecido se desgastasse. Às vezes, cansada de uma tarde de aula e da caminhada que eu dava até em casa, chegava faminta... mas, apesar das dificuldades, nunca faltou uma mesa farta.
           O cuscuz fofinho que meu pai fazia e que chamava de “ Napoleão” porque era grande e parecido com o chapéu de Napoleão, ( eita cuscuz bom, fofinho e gostoso!!!), era um prato que não podia faltar em nossa mesa, era de praxe.
           Além do cuscuz, tinha batata doce que meu pai chamava de “batata peidona”, ou sopa, inhame ou macaxeira, mas o cuscuz não podia faltar. Dá pra imaginar o tamanho do saco do pão? E da leiteira enorme cheia de leite? Um cafezinho passado na hora... dá até para sentir o cheiro! Ah! Quanta saudade!
           Meus pensamentos continuam voando no tempo e nessa trajetória me deparo já no segundo grau. Conheci Georges, meu esposo. Casamos em seguida. São anos de convivência.... de altos e baixos... tantas coisas se passaram!... Meus pensamentos  terminam o percurso dessa viagem ao passado fazendo pouso no presente.
            Hoje, não estou mais naquele casarão da Pajuçara, mas no meu singelo apartamento de pouco mais de 45m2. Me vejo fazendo também a mesma maratona que meus pais faziam para não faltar comida na mesa, juntamente com o meu marido, lutamos em busca pela sobrevivência e ainda damos uma forcinha com os netos.
           A vida é mesmo uma grande busca, uma eterna maratona. Peçamos a Deus, paciência e perseverança para sairmos vencedores. Espero que um dia, meus filhos e meus netos possam sentir também saudades de sua infância, sua adolescência... pois ficam registradas em nossa memória, e que suas lembranças sejam também “ doces recordações” nessa viagem de volta ao tempo.
           Portanto, quando eu não estiver mais nessa dimensão, que eu possa ser “lembrança viva”. Não deixarei riquezas materiais, mas o legado de  amor, humildade, perseverança e fé. Que possamos aproveitar cada lição nessa grande faculdade chamada “vida”.     

Um olhar além...




                                Um Olhar Além...

                                                                                                                          Fátima Soriano





         De repente, me deparei na sala de aula com meus alunos da EJA e me orgulhei de estar ali com eles, tão concentrados na produção de texto e fiquei pensando comigo: - Cada um representa um mundo, com suas histórias, suas limitações, suas deficiências, suas virtudes.

         Enfim, cada qual, seja o que for, independente de raça, de sexo, de classe social, representa um desafio... uma superação... uma busca, um quebra-cabeça. Como adentrar na alma desses personagens? Muitas vezes, sedentes de Deus, de carinho, de um ombro amigo... Tão desprovido de algo ou até mesmo de tudo.

         Aos nossos olhos, seria impossível decifrar seus mistérios, mas ao mergulhar no âmago de cada ser, descobrimos algo oculto a olho nu. Só um olhar além, mais debruçado, nos dá a possibilidade de fazer uma viagem descobrindo seus enigmas.

         O que seria de nós, professores, sem essa peça fundamental ao nosso objeto de estudo? Esse mundo tão próximo do mistério, onde podemos aprender tanto com cada um deles?... Seres, muitas vezes, marginalizados pela sociedade, esperando uma oportunidade, uma chance de crescer como seres humanos, como bons profissionais... seres tão grandiosos e que têm tanto para oferecer!...

         Desde então, percebemos o quanto é importante o papel do professor para decifrar tantos enigmas. “Uma palavra” pode derrubar ou levantar essas criaturas. Que possamos sempre colaborar para formar vencedores e cidadãos de bem.







              e-mail: f.soriano@ig.com.br

Vencendo as Pedras do Caminho



               Vencendo as Pedras do Caminho
                                                 Fátima Soriano
                                    
Pela  estrada da vida

Vou traçando minha jornada
entre rosas e espinhos
entre lágrimas e gargalhadas.

Mas têm momentos, bem sei
que bate aquele desânimo,
mas a fé em Deus nos ergue
e renova nosso ânimo.

E assim, vou vivendo
vencendo as pedras dos caminhos.
Tendo sempre a certeza
de que nunca estamos sozinhos.

Há sempre um Cristo
que nos ama e orienta
que é a nossa bússola
que acolhe e nos sustenta.

Essa vida é uma grande escola
estamos aqui só de passagem
enfrentando os desafios
transformando sofrimento em aprendizagem.

Por isso, meu irmão
levante-se, não esmoreça
saia espalhando sorriso
por onde houver tristeza.

E aí então, sentirás
no final da sua trajetória
a sensação do dever cumprido
e o gostinho da vitória


e-mail: f.soriano@ig.com.br

Nossas crianças pedem socorro!

                          Nossas crianças pedem socorro!

                                           Fátima Soriano

                                                                                                           


     Em cada canto do mundo, há sempre um grito silencioso que pede socorro. Há um olhar cheio de medo, de aflição, de angústia... São lágrimas que caem em rostos inocentes, com medo de denunciar.
     Nossas crianças estão desprotegidas . A violência , a pedofilia, as drogas, a prostituição, estão assombrando essas criaturas e transformando-as em adultos frustrados.
     A infância, período onde Casimiro de Abreu batizou como “o despertar da existência”, passou a ser momentos de torturas inesquecíveis na vida dessas crianças. O que fazer para mudar esse quadro? Onde estão os valores que outrora eram pregados nos lares? Hoje, parecem inexistentes. Perderam-se com o tempo.
     Os lares desfeitos, os pais ausentes e estressados, políticos alheios aos problemas sociais, a falta de limites dos pais, o capitalismo, o egoísmo e o sexo desregrado estão acabando com nossas crianças. E o que dizer dos pedófilos, esses “monstros fantasiados de anjos”, vampirizando e aterrorizando essas criaturinhas, muitas vezes, dentro de seus lares.
        E a violência doméstica? Quantas “Isabeles” vivem espalhadas canto a canto no mundo, vítima dos seus próprios pais? Onde estão os direitos da criança e do adolescente? Só no papel?
       É preciso que as autoridades competentes tomem providências emergenciais para punir os verdadeiros culpados, pois esses pequeninos pedem socorro com gritos abafados e silenciosos. Cada um de nós façamos nossa parte. Nossas crianças suplicam o direito de ter infância. O mundo clama por paz.
 Ter ou Ser ?
                                                                                    Fátima Soriano


       A desigualdade social é notória em cada canto do mundo. Basta ver essa disparidade em nossa cidade. Há um discurso de que todos têm as mesmas oportunidades . Essa afirmação não passa do papel. A realidade que temos é outra. As diferenças entre as pessoas começam no nascimento, da forma que vem ao mundo. A estrutura de um atendimento particular é completamente diferente de um hospital do SUS .


 
      O trabalho escravo é a degradação humana. Muitos vivem no conformismo e por questão de sobrevivência se permitem ser escravizado. O objetivo do sistema capitalista é obter lucro e, muitas vezes ,vai em busca do ter e esquece do ser. 
Algumas empresas dominam o mundo e através da mídia faz com que as pessoas de cada canto absorvam um consumismo incontrolável. 


    Temos que conciliar família e trabalho pois, na preocupação de mostrar o ter em nome de uma qualidade de vida, os pais tendem a passar menos tempo com os filhos, em função da manutenção dos bens materiais,e com isso, as pessoas estão ilhadas dentro de sua própria casa... Os filhos isolados em seu quarto, preso no seu computador ou na TV. 
   
     Não podemos ser mais um indivíduo que consome, que está no mundo. Um ser que cada dia mais se isola e se individualiza. Há famílias que educam de forma egoísta. Às vezes favorecem tudo aos filhos e esquecem de prepara-los para os desafios da vida.



    Constroem verdadeiros vândalos que queimam mendigos, assaltam bancos, sequestram, sem sensibilidade do valor humano. E a causa está na raiz da educação que favorecem mais o ter do que o ser. As pessoas se apegam as coisas materiais e se esquecem que esses bens aqui ficarão, não levarão para o além.
 

    A fé é colocada de lado no agir econômico. A mentira, a corrupção estão presentes em grande liderança do poder. A organização econômica deve estar ligada com a fé. Muitos dominam o saber, mas é um fracasso como pessoa. São alheios ao sofrimento humano. 

   Portanto, é preciso promover ações que possam exercer a participação na construção da vida pois, as virtudes e o amor são eternos. Nosso mundo está doente de egoísmo. 

Cada um de nós é responsável pelo mundo em que vive.