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sexta-feira, 21 de junho de 2013


                               SÃO JOÃO 

                                                   Fátima Soriano  


                              

  Cansada da luta do dia a dia, parei por um instante no sofá da sala, então,  me dei conta que era São João. Os barulhos de fogos da criançada e o cheiro de fumaça das fogueiras me transportou ao meu tempo de criança, no São João animado da casa dos meus pais.
   Minha mãe, na beira do fogão, fazendo pamonha, canjica, milho cozido, para receber as visitas dos filhos e dos netos. Meu pai e meus irmãos faziam a fogueira. Que tempo bom! Éramos felizes com a nossa vidinha simples. Papai nunca deixou faltar nossos fogos, meu vestido de chita e as delícias de milho feita por mamãe.
    O tempo passou... Meus pais se foram... Nunca mais comi uma pamonha e uma canjica tão gostosa!... Nunca mais achei graça em fogueira!... Eita, tempo bom!... Às vezes, nem imaginamos que momentos, aparentemente tão insignificantes, eternizem em nossa memória, transformando em saudades.Valorize o agora. Faça desse instante, algo bom para recordar amanhã.
   Portanto, como é importante valorizar cada instante que vivemos.  Não deixe o tempo passar em vão. Não deixe sua vida ser insignificante. Deixe rastros em seu caminho de perseverança, humildade e fé. Para quando não estivermos mais aqui, possamos ser doces lembranças para os nossos ente queridos. Só assim, poderemos ter a certeza de que a nossa passagem nesse mundo não foi em vão. 

segunda-feira, 10 de junho de 2013



                      Fernando Pessoa - Heteronímia



  Disfarces de um ser e o forjamento de eus: divisão e multiplicação em Fernando.

 Processo de criação artística de Fernando Pessoa é singularmente um caso particular porque se insere dentro de um " programa ou sistema" que, de certa forma, retoma a proposta de alguns escritores românticos: O tornar-se uma espécie de deus, um gênio criador, no sentido de poder gerar, via logos, outros seres em um mundo que é regido pelas leis literárias. Frutos de um imaginário, de perturbações estranhadas ainda no inconsciente, ou representações de um  "desassossegado" inadaptado às leis de seu tempo/espaço? Talvez as duas proposições e, talvez, nenhuma delas - se correlacionem ou se excluam.  Aqui, agora, será o momento de se enveredar por esta questão, buscando perceber, além destas questões, duas operações matemáticas - a divisão e a multiplicação - no poema Apontamento do heterônimo Álvaro de Campos.
  Segundo Massaud Moisés, Fernando Pessoa é classificado como um poeta em quarto grau, ou seja, de acordo com a escola gradual poética, a obra de Fernando Pessoa seria enquadrada no mais último grau que se caracteriza por completo, passando a não tão somente sentir mas viver as emoções que sente.
  Dessa forma, Pessoa assume e se desdobra em outros tantos sujeitos líricos quanto a sua alma necessita. Esse processo heteronímico conduz o leitor desprevenido a perceber determinados estados de loucura em uma personalidade desassossegada. A do poeta de Orpheu e mística de Mensagem.
  Passemos, então agora, a interpretar essa manifestação heteronímica a partir de um dos tantos heterônimos pessoanos.

                                     Apontamento

  A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
  Caiu pela escada excessivamente abaixo.
  Caiu das mãos da criada descuidada.
  Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia louça no vaso.
                                         
                                       (...)

  É sabido que um dos traços singulares pessoanos, talvez o maior deles, é a fragmentação do eu através do processo de heteronímia, conforme já dissemos, que alude, de certa maneira, à maneira divinatória da criação do mundo e de seus componentes, de acordo com a mitologia bíblica.
  Sendo assim, em Apontamento, como em muitos outros poemas, o estilhaçamento do eu poético proporciona não só uma divisão no todo como, também, uma multiplicação de eus através da aquisição de vida das partes do todo.
   A alma do eu lírico é, metaforicamente, de vidro, porcelana, barro ou outra substância de aspecto frágil, ou assume essa materialidade, pois que " partiu-se como um vaso". O ato de partir (-se) traz à tona uma questão problemática tão discutida em fins do século passado e durante a vigência deste: a questão do sujeito - lírico e social - é uma tônica que se corporifica em toda o seu processo artístico, visto que o conceito de sujeito se modifica no tempo histórico, como afirma Sussekind ( 1993) e, com o advento da Psicanálise, os estudos sobre o eu retalham a anatomia psíquica humana fazendo emergir problemas remanejados do inconsciente para outras áreas limites da vida humana, através do ato falho e este se configura, também, na escrita literária.
   A busca humana por uma essência metafísica pode ter conduzido a fragmentação de pessoa, o artista, em vários outros heterônimos que, talvez, fizessem-no, até no plano do terreno, satisfazer uma alma insubordinada, transgressora como a alma do Pessoa. O poema Apontamento deixa evidência nítidas deste olhar vítreo quebrado: " A minha alma partiu-se como um vaso vazio [...]. Um objeto frágil qualquer ao cair espalha seus cacos, fragmentos, estilhaços na superfície com a qual entrou em atrito. A queda e a quebra têm, nesta ação, a conotação de perda que deixa de ter seu valor porque não mais será um todo, mesmo reconstruído. Nunca será por inteiro.                                                                                    
    Portanto, fica-nos  uma lição do grande mestre Caieiro :" Nem sempre sou igual no que digo e escrevo/Mudo, mas não mudo muito."

segunda-feira, 3 de junho de 2013



                         UNS E OUTROS

                                                                Fátima Soriano


 Uns que buscam...
 Outros que esperam...

 Uns que sonham...
 Outros que já perderam a esperança...

 Uns que correm atrás dos seus sonhos...
 Outros que continuam na inércia...
 Inércia da vida, sem metas, sem rumo...
 Estacionados no meio do caminho, vendo o tempo passar,
 sem plantar, sem semear...

 Uns que estendem as mãos para o próximo...
 Outros que insistem em fechá-las...

 Uns que abrem os olhos para a realidade ao seu redor...
 Outros que continuam alheio a tudo, numa cegueira eterna...

 Vozes que gritam... que clamam...
 Bocas que se calam...

 Uns que acolhem...
 Outros que se fecham dentro do seu egoísmo, 
 como se a vida fosse  só matéria...

 E entre uns e outros, as diferenças devem ser respeitadas.
 Cada um tem direito ao livre arbítrio, 
 mas das consequências dos  nossos atos, ninguém escapa.